Cordel e migração: o folheto como veículo das histórias e suporte das memórias da migração nordestina no Rio de Janeiro (1950 – 2010)[1]



Sylvia Nemer

Departamento de História
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
____________________________  

♦ 1. “A Feira dos nordestinos no Campo de São Cristóvão”
♦ 2. " Os retirantes das secas: Não chove mais no sertão"

♦ 3. " A Feira nordestina: Foi assim que começou"

♦ 4. O Cantinho da poesia

♦ 5. A Feira nordestina vai para o Pavilhão

♦ 6. Onde está o poeta?




Índice





















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1. “A Feira dos nordestinos no Campo de São Cristóvão”[2]

Ponto de convergência entre o Nordeste e o Rio de Janeiro, a Feira de São Cristóvão funcionou, durante várias décadas, no Campo de São Cristóvão, transformado em local de encontro dos migrantes nordestinos com os seus conterrâneos, com as músicas, as comidas, as bebidas, os jogos, os objetos que lembravam a sua terra natal.

Hoje funcionando no interior do Pavilhão de São Cristóvão, a Feira surgiu entre os anos 1940 e 1950 na praça onde se situa o referido prédio, em construção na ocasião.[3] Na época, grandes contingentes da população carente do Nordeste chegavam às grandes cidades do Centro-Sul do país onde se concentravam os capitais financeiros, as indústrias e as ofertas de postos de trabalho.

A cidade do Rio de Janeiro foi um dos alvos desse processo, impulsionado pelo programa desenvolvimentista, pela propaganda ufanista disseminada pela mídia e, sobretudo, pela força de trabalho do migrante nordestino que não apenas constituía a peça central da engrenagem de construção da moderna metrópole carioca, mas também um constrangimento para seus habitantes que, inebriados pela atmosfera de modernidade e cosmopolitismo da Cidade Maravilhosa, viam com maus olhos os recém chegados, reveladores do atraso em que permanecia mergulhada a maior parte do país.[4]

“Vitrine do progresso” da nação, a cidade do Rio de Janeiro, na condição de Capital Federal, deveria servir de modelo para aquilo que o “Brasil, país do futuro”[5] viria, com o tempo, a se transformar.

Nas revistas lidas pela boa sociedade carioca tal visão era endossada, revelando-se em imagens onde a idéia de moderno sobressaia nas cenas de transeuntes circulando pelas ruas, automóveis em ritmo frenético, prédios altos, praias, guarda-sóis, mulheres de maiô e calças compridas.[6]

Excluídos dos espaços freqüentados pela elite, os migrantes nordestinos,[7] responsáveis pela construção dos imponentes edifícios que modificavam a paisagem da “cidade-capital”, passaram a se apropriar das suas áreas antigas e desvalorizadas.

O Campo de São Cristóvão
É palco de tradição
Dos primeiros nordestinos
Que deixaram seu torrão
Sua família querida
Vieram tentar a vida
Viajando de caminhão (Santos, Azulão, s/d, p. 1)

O Campo de São Cristóvão, outrora cercado por residências aristocráticas, foi um deles. Abandonado pela elite, que trocou os tradicionais sobrados pelos edifícios altos construídos à beira-mar, o local se transformou em ponto de encontro dos nordestinos recém chegados ao Rio de Janeiro com os seus conterrâneos estabelecidos há mais tempo na cidade.[8]

Era o Nordeste que ressurgia no cheiro do sarapatel, nos objetos coloridos vendidos em esteiras espalhadas pelo chão, nos acordes da viola, nos falares típicos e, acima de tudo, nas vozes dos poetas que traziam de volta as histórias que, desde a infância, o público ali reunido se acostumara a ouvir nas feiras e mercados de sua terra natal.

Essas histórias e essas memórias, que têm como corolário o drama das secas e o fenômeno da migração, constituem, na visão do retirante, o primeiro capítulo da história da Feira de São Cristóvão.

2. "Os retirantes das secas: Não chove mais no sertão"[9]

A dureza que a seca imprime à paisagem e à vida das pessoas associada à falta de condições mínimas para sobreviver no lugar de origem são elementos formadores do quadro através do qual o retirante percebe a sua sina, descreve a sua trajetória, define o seu destino.

Desesperança, tristeza, morte, devastação, são os signos de uma experiência comum que o cordel, como expressão de uma realidade vivida pelo cordelista e compartilhada pela comunidade migrante, traduz com maestria:

A seca está devorando
O Nordeste castigando
E o nordestino chorando
Sem fazer mais plantação
De fava, milho e feijão
Nem trovão nem invernada
Não há mais terra molhada
Não chove mais no sertão

O gado urra com sede
Morre ao pé da parede
Seu dono desarma a rede
Vai procurar remissão
Arruma seu matulão
E segue sem ter demora
Dizendo estrada afora
Não chove mais no sertão

Viaja fazendo planos
Nos mais cruéis desenganos
Por passar anos e anos
Sem chover no seu torrão
Em cima dum caminhão
Via pra São Paulo ou Goiás
Dizendo adeus a seus pais
Não chove mais no sertão (A. Santos, 1993, p. 1)

Em seu folheto “Os retirantes das secas, não chove mais no sertão”, o poeta popular Apolônio Alves dos Santos, um dos pioneiros da Feira de São Cristóvão, descreve não só a sua própria trajetória, mas a de grande parte dos migrantes que decidiram deixar o Nordeste para tentar a vida nas regiões mais ricas e adiantadas do país.

Composto em terceira pessoa o poema retrata uma realidade de miséria e abandono comum aos habitantes do sertão nordestino que reconhecem um pedaço de sua história nas palavras simples, impressas em folhetos baratos vendidos pelo próprio poeta em bancas improvisadas.

Realidade conhecida pela parcela bem situada da sociedade brasileira, em geral, apenas por meio de representações literárias ou audiovisuais, a seca, contada e cantada nos versos de cordel, ganha uma dimensão única: pela voz do cantador, o verso “não chove mais no sertão”, que encerra cada uma das dezenove estrofes do poema, não só se revela como representação de uma experiência vivida; mais do que tudo ele soa como uma sentença que indica como único caminho a migração.

Atuando como instrumento de registro e transmissão de memórias, de uma memória que não se quer e não se pode apagar, o cordel traz o passado até o presente fazendo com que histórias reais ou imaginárias, vividas ou ouvidas, sejam guardadas e repassadas por gerações sucessivas de ouvintes e narradores.

Eram essas histórias que levavam o nordestino migrante a se reunir aos domingos no Campo de São Cristóvão. Ali, cercado por ouvidos atentos e olhares saudosos, o poeta, com a viola na mão e os versos na memória, reproduzia o repertório de sons e imagens conhecido e amado pela platéia.


3. “A Feira nordestina: Foi assim que começou”[10]

A realidade do sertão nordestino serve de base para o poeta migrante falar para a sua comunidade de ouvintes nas grandes cidades da região Sudeste.

Na linguagem do seu público, ele traduz a dor da separação da família e do abandono da terra, as aventuras e desventuras da viagem e as dificuldades enfrentadas na chegada ao Rio de Janeiro.

Recorrendo ao repertório dos cantos e contos populares do Nordeste, seus versos repetem a saga de Viramundo,[11] personagem típico do cordel nordestino que reproduz, em sua viagem imaginária, a longa e penosa trajetória percorrida pelo migrante através dos caminhos poeirentos da recém aberta Rio-Bahia.[12]

Sujeito ao desconforto da travessia feita na carroceria do “pau-de-arara”, à exposição ao sol e à chuva, à má alimentação, às doenças, e a vários outros imprevistos e dificuldades, ele por fim chega ao seu destino.

Depois de dez, doze dias
Numa viagem sofrida
O Campo de São Cristóvão
Era o ponto de descida
Onde cada nordestino
Procurava seu destino
Em busca da nova vida (Santos, Azulão, op. cit., p. 1)

Ao desembarcar no Campo de São Cristóvão, última parada dos caminhões antes de retornarem ao Nordeste com a carga de mercadorias necessárias ao abastecimento dos mercados da região, o recém chegado se deparava com a dura realidade da cidade grande. Nesse momento uma nova etapa na sua trajetória de lutas se iniciava.

Aqui, a narrativa passa a ter como cenário o local de chegada dos caminhões que começou a concentrar grande número de nordestinos carentes de ajuda e em busca de algum meio para sobreviver na cidade.

Quando os caminhões chegavam
No começo da semana
Os nordestinos ficavam
Comendo pão e banana
Esperando alguém chegar
No domingo, e os levar
Pra obra em Copacabana (Santos, Azulão, 2007, p. 4)

Sem emprego, sem família, sem lugar para se instalar, muitos permaneciam vários dias após a chegada perambulando pelas redondezas na tentativa de conseguir comida, um cantinho para morar, um trabalho ou, como acontecia com freqüência, algum dinheiro para a retirada da sua mala, mantida como caução, pelo motorista do “pau-de-arara”, enquanto não fosse efetivado o pagamento da viagem, tratado, como era de costume, para ser feito no destino.

Dormindo embaixo de árvores enquanto esperavam surgir alguma ocupação, muitos migrantes tiveram que se sujeitar a praticamente acampar nas imediações do local onde tinham desembarcado que com o movimento viu nascer um pequeno comércio de produtos do Nordeste. Era a Feira de São Cristóvão que surgia. Em que momento preciso, não se pode dizer.

Isso já foi no final
Da década de quarenta
O sofrer dos nordestinos
Quem viu ainda lamenta
E a feirinha a seguir
Só começou a se expandir
No início de cinqüenta. (Ibidem, p. 4)



4. O Cantinho da poesia

No espaço das grandes cidades, as áreas próximas aos centros comerciais, administrativos e financeiros foram tradicionalmente ocupadas pelos segmentos sociais hegemônicos, beneficiários do processo de divisão capitalista do território urbano que, sistematicamente, expulsou as minorias sócio-econômicas para as zonas periféricas.[13]

Esse processo, que começou no Rio de Janeiro no início do século XX com as reformas de Pereira Passos, se intensificou ao longo da década de 1950 quando a então Capital Federal, em intenso processo de modernização, expansão imobiliária em direção à zona sul da cidade e crescimento da demanda de força de trabalho para emprego nos canteiros de obra, adotou uma política menos coercitiva em relação ao uso dos espaços próximos à região central da cidade pela população pobre que aproveitou a oportunidade para se apropriar de áreas como o Campo de São Cristóvão onde funcionou e se manteve por muitas décadas a Feira de São Cristóvão, transformada, pouco tempo após a sua criação, em um dos maiores, senão no maior reduto de nordestinos fora do Nordeste.

Dentro deste reduto, um ponto, em especial, chamava a atenção; era o “Cantinho da poesia”, considerado como o coração da Feira de São Cristóvão pelos freqüentadores habituais do local que vendo no cordel um meio de manter o vínculo com o passado, ali se reuniam para ouvir histórias de beatos e cangaceiros, valentes e princesas, reinos distantes e paraísos perdidos.

Como São Saruê, o país imaginário criado pelo poeta popular Manoel Camilo dos Santos, o “Cantinho da poesia” representava um refúgio no qual a dor dava lugar à alegria, o trabalho ao descanso, a carência à abundância.

Doutor mestre pensamento
me disse um dia: - Você
Camilo vá visitar
o país São Saruê
pois é o lugar melhor
que neste mundo se vê.

Eu que desde pequenino
sempre ouvia falar
nesse tal São Saruê
destinei-me a viajar
com ordem do pensamento
fui conhecer o lugar.

Iniciei a viagem
as quatro da madrugada
tomei o carro da brisa
passei pela alvorada
junto do quebrar da barra
eu vi a aurora abismada. (M. Santos, s/d, p. 1)

O mesmo ambiente de sonho e evasão no qual se entrava ao ouvir as histórias narradas nos folhetos e romances de cordel se experimentava no “Cantinho da poesia”, onde o migrante tinha oportunidade de vivenciar a liberdade de expressão que lhe era negada nos demais espaços da cidade.

A possibilidade de o poeta evocar a memória, reconstruir identidades, trazer de volta o passado, o transformava em figura referencial em seu meio de atuação. Essa situação ganhava mais relevo quando o passado se associava à saudade como acontecia entre os migrantes. Nesse caso, o cordel assumia a função de ponte, o poeta a de veículo de ligação entre o passado e o presente e o “Cantinho da poesia” a de meio de acesso a uma memória transmitida através dos tempos e que dependia da voz do poeta e do espaço ocupado por ele e pelo seu público para se fazer, de novo, presente.

Local privilegiado para venda de folhetos, apresentação de cantadores e duelos de repentistas, o “Cantinho da poesia” era um espaço síntese da cultura nordestina praticada na Feira de São Cristóvão que, por sua vez, atuava como um ponto no mapa da cidade do Rio de Janeiro reservado à música, à literatura, aos produtos da culinária e do artesanato do Nordeste.

Todos esses sentidos, significados e valores passarão por um processo de re-elaboração a partir de 2003 quando a Feira teve seu funcionamento transferido para o Pavilhão de São Cristóvão.

5. A Feira nordestina vai para o Pavilhão

Lugar de memória da comunidade migrante na cidade do Rio de Janeiro, a Feira de São Cristóvão, após décadas de lutas dos feirantes, dos cordelistas e dos freqüentadores por sua manutenção no Campo de São Cristóvão, sofreu em 2003 uma grande intervenção por parte do poder público que resolveu transferi-la para dentro do Pavilhão de São Cristóvão onde, a partir de então, passou a funcionar o Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas.

A mudança na estrutura da Feira de São Cristóvão realizou-se em três etapas sucessivas: a primeira, em 1982, determinou o fim da condição de clandestinidade que, desde os seus primórdios, na década de 1940, caracterizara a sua atuação; a segunda, fruto da Lei 2052, decretada em 1993, garantiu a sua permanência no Campo de São Cristóvão; a terceira, em 2003, promoveu não só a sua transferência para o Pavilhão, mas também formalizou a sua inserção no novo mercado de bens culturais da cidade e do país.

Trata-se de um longo processo de apropriação pelo poder público do espaço ocupado pelas práticas e bens da cultura popular nordestina que, ao longo do referido processo, passou de uma condição marginal, na qual era associada ao atraso, à desordem e considerada um empecilho ao avanço da modernização em curso na cidade do Rio de Janeiro, para um status comercial no qual se percebe uma mudança na tônica do discurso sobre a Feira que, ao mesmo tempo em que teve a sua dimensão simbólica reforçada teve, simultaneamente, a sua estrutura de funcionamento modificada.

O discurso de promoção do novo espaço é rebatido por alguns cordelistas que no folheto coletivo publicado na ocasião da comemoração ao aniversário de 62 anos da Feira de São Cristóvão apontam para o fato de que o frequentador tradicional não se reconhece mais naquele lugar que por décadas foi o seu principal ponto de referência na cidade do Rio de Janeiro.

Hoje a Feira está completamente,
Avançada, moderna e esquisita
Não há mais pé de serra nem coquista
Pouca prosa e bastante barulhenta
Nordestino não mais se alimenta
Das lembranças do tempo que passou
Precisamos rever o que sobrou
Pra que ela volte a ser verdadeira
Com sessenta e dois anos, nossa Feira
São Cristóvão saúda o Redentor. (Vários, 2007, p. 11)

Para esse nordestino, não só o espaço, mas quase tudo na Feira mudou: não se come mais a mesma comida, não se ouve mais a mesma música, não se encontram mais as mesmas pessoas. O que, então, sobreviveu? Como diria Guel Arraes: a saudade.

Os nordestinos matam a saudade do Nordeste na Feira de São Cristóvão. Os cariocas inventam a saudade do Nordeste na Feira de São Cristóvão.[14]

6. Onde está o poeta?

Na década de 1940 o radialista Almirante levou ao ar pela Rádio Tupy do Rio de Janeiro o programa Onde está o poeta que promovia apresentações de artistas anônimos ligados ao universo da poesia e do cancioneiro tradicional.

Na mesma, época Luiz Gonzaga se lançava nos meios radiofônicos cariocas participando de programas como o famoso No mundo do baião da Rádio Nacional onde se apresentavam os artistas consagrados da música nordestina.

A Tupy e a Nacional foram, entre as décadas de 1940 e 1950, as emissoras brasileiras de maior audiência e impacto popular. Ter acesso aos seus cobiçados microfones era o sonho de todo artista da voz. Esse era o meio mais fácil e rápido de chegar ao público, tornar-se conhecido e fazer sucesso.

Mas isso, obviamente, era para poucos. Luiz Gonzaga foi um deles. Eleito Rei do Baião, ele se transformou, em pouco tempo, não só em um símbolo da música e da cultura nordestina, mas em um ícone do Nordeste representado pelo sertanejo rude de gibão e chapéu de couro.

Fruto de uma época em que o novo mundo do espetáculo começava a penetrar no velho mundo das tradições, Luiz Gonzaga teve seu nome escolhido para batizar o novo espaço ocupado pela cultura e pelas tradições nordestinas na cidade do Rio de Janeiro. Essa escolha, no entanto, não se deve ao acaso.

O Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, vale repetir, “tem tradição, tem nordestinos, mas tem pouca tradição nordestina”. O que ali há, de acordo com a supracitada matéria do Jornal do Brasil, é o espetáculo da tradição nordestina que traz para a Feira os holofotes da mídia, a multidão de fãs e as celebridades do forró e da axé music. Com eles a tradição nordestina encontrou, enfim, o seu lugar. Mas e o poeta, onde está ele nesse novo lugar?

A geografia da nova Feira é representativa dos diferentes lugares ocupados pelas tradições nordestinas na cidade do Rio de Janeiro.

Nas extremidades do mapa encontram-se as duas praças principais, batizadas com nomes de artistas nordestinos consagrados na MPB: João do Vale e Jackson do Pandeiro.

No centro do mapa, no ponto de convergência da alameda que liga as duas praças principais, encontra-se a praça Catolé do Rocha, nome dado em homenagem à cidade homônima, localizada no interior do Estado da Paraíba, considerado o berço da poesia de cordel e dos maiores poetas do gênero que o Brasil já conheceu: Silvino Pirauá de Lima, Francisco das Chagas Batista e Leandro Gomes de Barros. É esse o lugar reservado ao cordel, ao repente e à cantoria no mapa da nova Feira.

Conhecido como Tenda dos Repentistas, o espaço é coberto por uma tenda azul que define os limites de ocupação da área reservada à poesia tradicional nordestina. Organizado de forma circular, o espaço é cercado, em um dos lados do semicírculo, por bancas reservadas à venda de folhetos de cordel, de xilogravuras e de CDs e, no outro, por bancos compridos de madeira onde se sentam as pessoas interessadas em assistir as apresentações feitas no pequeno palco instalado no centro da tenda. Ali, normalmente, em duplas se exibem os poetas, no caso, os repentistas, pois os poetas de cordel só têm, na área da tenda, espaço reservado à venda de folhetos.[15]

Com suas violas, versos de improviso e quase sempre lidando com as pessoas presentes e as situações a sua volta, os repentistas, embora com público não muito numeroso, conseguem sempre reunir na tenda alguns espectadores que, seja para descansar nos bancos, seja para ouvir os versos, assistem às apresentações, riem de um ou outro verso lançado pelo poeta a alguém da platéia, pedem temas, batem palmas, retribuem colocando alguns reais na cestinha, em suma, participam do espetáculo mantendo vivo o vínculo entre o poeta e o público que é a condição básica para a realização da poesia popular tradicional.

No caso do cordel esse vínculo, pelo menos na Feira de São Cristóvão, desapareceu. Um dos motivos talvez seja o tipo de público freqüentador da nova Feira; um público heterogêneo formado, majoritariamente, por pessoas sem laços ou com laços distantes com o romanceiro popular tradicional.

Diferente do público que costumava freqüentar a antiga Feira, normalmente, chegado ao Rio de Janeiro nos idos dos anos 1950 e ainda acostumado a ouvir cantar romances, o novo público não interage com o poeta, não se interessa pelos enredos, não se insere na lógica da narrativa, não compartilha das expectativas que envolvem a poesia de cordel. Com isso se perdeu o vínculo entre o público e o poeta que teve que tomar outros rumos.

Desde que se estabeleceu, nos anos 1940, no Rio de Janeiro, a tradição nordestina tem seguido dois rumos distintos: o da mídia e o das feiras.

Luiz Gonzaga e Azulão, origens comuns, destinos diferentes

Luiz Gonzaga ajudou a divulgar a música e os ritmos nordestinos no Centro-Sul do país; fez sucesso no Rio de Janeiro; participou, junto com o parceiro Zé Dantas, do programa No mundo do baião; se apresentou em recepções presidenciais; virou Rei do Baião, símbolo do Nordeste e patrono da Feira de São Cristóvão, homenageado no cordel do seu então diretor Marcus Lucenna.

Luiz Gonzaga mostrou
Como se dança o baião
E o Brasil todo aprendeu
Prestando bem atenção
Sua sanfona gemeu
E o verde se estendeu
Por “riba” da plantação. (Lucenna, 2009, p. 8)

Azulão ajudou a fundar a Feira de São Cristóvão e a espalhar pelo Rio de Janeiro os versos do romanceiro tradicional nordestino; cantou em praças, feiras e canteiros de obras, trazendo o Nordeste à memória de seus conterrâneos; participou, junto com Palmeirinha e outros artistas anônimos, do programa Onde está o poeta; sua arte, presente na memória da Feira de São Cristóvão, foi lembrada nos versos do cordel escrito em comemoração aos 62 anos de existência daquele lugar.

No cantar de Azulão e Palmeirinha
No famoso programa de Almirante
Em um tempo que vai muito distante
A cultura de um povo assim caminha
Rapadura, feijão, beiju, farinha
O destino por sábio professor
A viola empunhada com amor
Sob um peito entoando a gemedeira
Com sessenta e dois anos, nossa Feira
São Cristóvão saúda o Redentor. (Vários, op. cit., p. 2)

Hoje com mais 80 anos de idade Azulão integra a galeria de tipos marcantes da arte do cordel praticada no Rio de Janeiro. Mas, por onde ele anda?

Presente em toda a história da Feira de São Cristóvão, desde seu surgimento no Campo de São Cristóvão, entre as décadas de 1940 e 1950, até a sua transferência para o interior do Pavilhão, Azulão é figura de destaque em seu meio. Reconhecido tanto pelos poetas mais antigos quanto pelos mais jovens, ele nunca deixou de cantar, compor e vender folhetos.

A Feira de São Cristóvão continua sendo seu ponto de trabalho, porém, diferente dos outros cordelistas que trabalham no local, Azulão preferiu montar a sua banca fora da Tenda dos Repentistas, segundo ele, muito barulhenta.

Fiel ao velho estilo, o poeta, acompanhado da sua inseparável viola, não abandonou a cantoria, os romances e as histórias cantadas. É assim que ele continua vendendo os seus folhetos. Aos domingos em uma banca solitária, instalada na entrada principal da Feira, é ali que podemos encontrá-lo.

Dos poetas remanescentes da primeira geração de cordelistas atuante na Feira de São Cristóvão, Azulão é o único que continua trabalhando no local. Os outros dois, igualmente, na faixa dos 70, 80 anos de idade, deixaram de atuar na Feira, freqüentando-a, atualmente, apenas de forma esporádica.

Gonçalo Ferreira da Silva ocupa a função de presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel desde a fundação da instituição nos anos 1980. Muito ativo, o poeta, além de presidir a ABLC, continua escrevendo e publicando cordéis, organizando livros e antologias, dando palestras e entrevistas, visitando universidades e escolas, viajando pelo Brasil para participar de eventos diversos, atuando, enfim, em múltiplos segmentos da literatura de cordel que hoje não só experimenta mudanças como busca caminhos para renovação.

Com sua sede instalada em um casarão antigo no bairro de Santa Teresa, a ABLC, ou Casa de Cultura São Saruê, como é mais conhecida, é um lugar onde tanto se discutem os rumos da literatura de cordel quanto se tenta preservar a memória dessa literatura. É nesse lugar que podemos, quase sempre, encontrar o poeta Gonçalo.

O último dos três cordelistas remanescentes da antiga Feira é Raimundo Santa Helena, o poeta mais controvertido, polêmico e extravagante da história da Feira de São Cristóvão, da qual é considerado fundador.

A polêmica começa aí, pois a versão do poeta em relação à fundação é reconhecida como a versão oficial o que gera certa animosidade entre os poetas que também participaram dos primeiros momentos da Feira.

Na condição de fundador simbólico da Feira de São Cristóvão, Santa Helena a visita anualmente na data de comemoração do aniversário da sua fundação. Fora isso, a Feira hoje, para ele, se resume ao seu enorme acervo formado por documentos de diferentes tipos e suportes, fitas de VHS, DVDs, CDs, fitas cassete, recortes de jornais, panfletos, manifestos, fotografias, desenhos, xilogravuras, bilhetes, cartas e outros manuscritos que ele tenta não só organizar como recuperar, uma vez que boa parte deles se perdeu nas sucessivas enchentes que atingiram a sua residência em um bairro do subúrbio carioca.

Obstinado na tarefa de preservação da memória do cordel praticado na Feira de São Cristóvão, o poeta transformou a sua casa em um museu: o Museu de Cordel Raimundo Santa Helena. É ali, entre caixas de documentos e paredes inteiramente cobertas com capas de folhetos de cordel que podemos encontrá-lo.

Onde está o poeta?

Do seu modo e do seu canto – do seu “Cantinho da poesia” – cada um deles tenta recriar o passado, representado pela migração, pela Feira de São Cristóvão e, acima de tudo, pelo cordel que lhes permite reelaborar as experiências vividas transformando-as em histórias e reinventar a saudade, transformando-a em memória.







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Notas

[1]. Este trabalho é parte de uma pesquisa mais ampla em desenvolvimento na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Departamento de História.

[2]. Título do folheto de José João dos Santos – o Azulão (Santos, Azulão, 1982)

[3]. O projeto, de autoria do arquiteto Sergio Bernardes, começou a ser executado no final dos anos 1950 e foi inaugurado em 1962.

[4]. Sobre a relação entre modernização e migração o texto Capitalismo tardio e sociabilidade moderna, de João Manuel Cardoso Mello e Fernando Novais traz contribuições importantes. (Mello e Novais, in: Schwarcz, 1998, pp. 559-658).

[5]. A expressão, que se tornou de uso corrente no vocabulário brasileiro, tem sua origem no livro homônimo, escrito em 1941 pelo escritor austríaco Stephan Zweig, então exilado no Brasil.

[6]. Essas imagens podiam ser vistas com freqüência nas páginas da revista O Cruzeiro cuja política editorial era “informar” a opinião pública a respeito do progresso em curso no país.

[7]. A visão estereotipada acerca dos migrantes aparece com freqüência em matérias publicadas pela imprensa carioca dos anos 1950, como se percebe, por exemplo, na matéria assinada por D. Nasser, Rio, perdoa o ingrato, publicada na revista O Cruzeiro de 7 de maio de 1960. (Nasser, 1960)

[8]. Em pleno desenvolvimento econômico nos anos 1950, a cidade do Rio de Janeiro, segundo L. Correa Lago em Desigualdades e segregação na metrópole, costumava “tolerar a presença de parte dos trabalhadores pobres em determinadas áreas do core [sic] e liberar as extensas periferias para que os demais ali se assentassem.” (Lago, 2000, p. 63)

[9]. Título do folheto de Apolônio Alves dos Santos (A. Santos, 1993)

[10]. Título do folheto de José João dos Santos – Azulão (Santos, Azulão, 2007)

[11]. Para Idelette Muzart Fonseca dos Santos em Memória das vozes: cantoria, romanceiro e cordel, há um modelo, a partir das narrativas tradicionais, “a que os poetas populares recorrem para criar os personagens picarescos, malandros ou ‘amarelos’ (alusão tanto à cor doentia quanto a uma mestiçagem indeterminada), que são Cancão de Fogo, Pedro Malasartes, João Grilo [...] Da mesma forma, os ‘romances exagerados’, que hesitam entre o maravilhoso e o riso, como a série dos Vira-Mundo de João José da Silva” (I. Santos, 2006, p. 76). Da série dos Vira-Mundo, com nove títulos publicados, três títulos constam do acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa: A história de Vira-Mundo, Cava-Mundo e Gonçalinho Vira-Mundo.

[12]. A Rio-Bahia foi aberta no governo do presidente Dutra, mas só foi concluída e inaugurada em 1963 no governo do presidente João Goulart.

[13]. Ver L. Lago, op. cit.

[14]. Observação de G. Arraes em Opiniões, revista A Prefeitura do Rio (op. cit.).

[15]. Ver S. Giacomini, Sociabilidade, gênero e emoções num espaço de lazer popular: os cordéis na Feira de São Cristóvão, Rio de Janeiro, PUC-RJ, n. 3, 2008, pp. 16-29.