História e folhetos de cordel no Brasil: caminhos para a continuidade de um diálogo interdisciplinar



Paulo Teixeira Iumatti

Instituto de Estudos Brasileiros
Universidade de São Paulo
____________________________  

♦ A pouca tematização pela História
♦ A História nas pesquisas sobre a literatura de folhetos do norte do Brasil

♦ Considerações finais





Índice


















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Resumo

Trata-se, neste artigo, de discutir o modo como os estudos e métodos históricos vêm sendo utilizados em pesquisas sobre a literatura de folhetos no Brasil, apresentando uma leitura crítica mais detida de alguns trabalhos importantes realizados entre os anos 1970 e a atualidade. A imagem do cordel como literatura, ou como parte de uma sociedade rural, ou ainda como forma de comunicação popular tendeu a atrair, além de poetas, “intelectuais de província” e folcloristas, estudiosos de Letras, Sociologia, Antropologia e Comunicação, mas não de História, com relativamente poucas exceções. Por outro lado, a evolução dos estudos mostra que vários deles conseguiram resultados importantes ao incorporarem procedimentos históricos e historiográficos, embora por vezes operando ainda com modelos de interpretação hoje questionados ou relativizados pelos historiadores. Assim, faz-se urgente o aprofundamento do diálogo interdisciplinar, de modo que os historiadores incorporem com mais freqüência o cordel brasileiro como objeto de estudo, e que, ao mesmo tempo, a História seja incorporada por estudiosos de outras áreas no que tange a seus métodos e à revisão e crítica de modelos interpretativos.





A pouca tematização pela História

A discussão sobre as relações entre História e cultura popular, em meio à qual se situa o debate sobre as relações entre História e literatura de cordel, remonta às discussões sobre o próprio conceito de “cultura popular” por historiadores e outros cientistas sociais dos anos 1950 à década de 1980, como Roger Chartier, Peter Burke, Edward Thompson, Stuart Hall, Carlo Ginzburg, Michel de Certeau e Jacques Revel.[1] Com efeito, nesse momento adensaram-se os questionamentos sobre as possibilidades de utilização do conceito de “cultura popular”, na medida em que trazia alguns problemas básicos:

      1) supunha uma perspectiva consensual, ocultando possíveis conflitos, bem como
          operações de idealização, destruição e ocultamento,

     2) tendia a essencializar objetos como portadores do que era concebido
           como “popular”,

     3) ignorava o constante trânsito entre o popular e o erudito,

      4) não reconhecia que decisiva na conceituação do popular era a apropriação dos
           bens culturais, e não tão somente sua produção social,

     5) ignorava que a cultura popular dependia dos contextos de performance, produção,
          encenação e recepção,

     6) tendia a reproduzir um modelo fixo da cultura popular como autônoma ou como
          completamente dependente, ignorando negociações, hibridismos e ambigüidades.

Algumas dessas discussões tiveram repercussão na historiografia brasileira, que as incorporou em estudos sobre a cultura e o cotidiano de grupos oprimidos, marginalizados ou subalternos.[2] No entanto, a relação específica entre história e literatura de cordel no Brasil é, com algumas exceções, uma relação até hoje quase não problematizada, já que, surpreendentemente, o cordel brasileiro foi pouco estudado pelos historiadores. Com efeito, ao observarmos as formações da grande maioria dos principais estudiosos do assunto, veremos que nenhuma é em História: Ruth Terra (Sociologia); Jerusa Pires Ferreira (Lingüística); Ignez Ayala (Literatura); Silvano Peloso (Literatura); Márcia Abreu (Literatura); Idelette Muzart dos Santos (Literatura); Antonio Arantes (Antropologia); Julie Cavignac (Antropologia); Candice Slater (Comunicação); Joseph Luyten (Comunicação) etc.

Isso se torna ainda mais instigante quando constatamos que, dentre outras, uma das maiores referências internacionais nos estudos históricos sobre cultura no Brasil é especialista na chamada “littérature de colportage”: o historiador Roger Chartier. No Brasil, bastante repercussão tiveram seus estudos teóricos e sobre a história da leitura, do livro e das edições em geral,[3] mas aqueles específicos sobre a literatura de cordel não chegaram a motivar um interesse mais generalizado dos historiadores pela literatura de folhetos brasileira (conquanto sejam utilizados por vários estudiosos).

Todavia, a história do cordel no Brasil coloca inúmeros problemas aos historiadores. A importância que o cordel tem ou teve, de finais do século XIX até meados do século XX, na “cultura brasileira”, da qual chegou a tornar-se, para os expoentes do movimento armorial, um de seus maiores símbolos,[4] vem sendo destacada, inclusive por historiadores.[5] Como objeto escrito, que também foi ouvido, até há poucas décadas, por populações majoritariamente analfabetas, ele representa, por exemplo, uma das formas de mediação entre o universo oral e o letrado, entre o “popular” e o “erudito”, entre “desordem” e “ordem” – formas cujo estudo tem estado no centro de várias pesquisas e reflexões históricas (ou utilizadas por historiadores) sobre a diversidade e os processos culturais do país.[6]

Situado entre o real e o imaginário, entre o histórico e o ficcional, entre o oral e o escrito, o cordel tem uma realidade complexa, que se apresenta como “desafio” a pesquisadores de várias áreas. Com efeito, há nele um corpus de saberes veiculados, que dialoga com as tradições orais, e que representa uma espécie de entroncamento de diferentes repertórios, vivências, memórias, conhecimentos, crenças etc., o que torna particularmente difíceis e fecundos a sua compreensão e estudo.[7] Nesse sentido, é evidente a sua riqueza para o estudo da história social e cultural brasileira, a partir de múltiplos pontos de vista.[8] No entanto, até hoje os historiadores o utilizaram em relativamente poucas e recentes - mas importantíssimas -  pesquisas,[9] por exemplo, como fonte para o estudo do cangaço, do imaginário dos devotos do Padre Cícero, da história política da Primeira República, da história e da memória das migrações (na Amazônia e no Rio de Janeiro), das representações de gênero, das relações raciais, do significado da atuação do Exército e das práticas de recrutamento e conscrição, bem como do próprio universo de produção e consumo dessa literatura ou de sua apropriação por escritores, artistas e intelectuais. Assim, foi estudada de forma aprofundada uma pluralidade de assuntos de grande relevância, embora por relativamente poucos pesquisadores, tendo sido deixados de lado, ademais, inúmeros outros temas, pertinentes, por exemplo, a questões privilegiadas pela História, como os mecanismos de irradiação/contestação do poder ou a construção da memória entre finais do século XIX e ao longo do século XX.

Algumas hipóteses podem ser aventadas para essa escassez, que vem sendo rompida de forma cada vez mais intensa a partir sobretudo das duas últimas décadas. Em primeiro lugar, o fato de se tratar de um objeto tradicionalmente abordado no Brasil como literatura ou folclore. Com efeito, a visão do cordel como um dos repositórios da “essência popular” e seu depósito em acervos de instituições de guarda estimularam, inicialmente, um grupo de pesquisadores da Literatura, da Filologia etc. a buscar ou aplicar a ele seus esquemas de classificação e interpretação. O desenvolvimento de instrumental específico, ligado à análise das formas narrativas – pertinente tanto aos especialistas em literatura como também, e embora com metodologia e objetivos diversos, aos antropólogos – , e à identificação de ciclos, gêneros etc., terá assim contribuído para esse alheamento (lembre-se que tais questões permaneceram, até pelo menos os trabalhos de Haydn White e o chamado “linguistic turn”, tradicionalmente fora da competência dos historiadores; assim, o diálogo mais importante entre História e Literatura produziu resultados de maior vulto nos estudos sobre o cordel apenas recentemente). Acredito ainda que o amplo processo de migração para as cidades, que transformou a fisionomia do país sobretudo a partir dos anos 1950, junto à história do folclore e da (relativa) institucionalização do cordel a partir de uma visão da cultura popular herdeira do século XIX e da perspectiva da “defesa da tradição”[10] colaboraram para que o cordel permanecesse em circuitos dos quais os historiadores estiveram afastados. Ademais, uma forte crítica ideológica, formulada nos anos 1960 e 70, ao cordel como portador de valores ultra-conservadores ou reacionários[11] tendeu a descartá-lo como fonte de estudo sobre as revoltas populares e as possibilidades de formação de uma “consciência de classe”, temas que poderiam ter interessado historiadores dos anos 1970 a 1990. Por fim, e talvez mais importante, a ainda grande concentração das pesquisas brasileiras no eixo Rio-São Paulo pode ter feito com que certa ênfase atual na história sócio-cultural, que dialoga com diversas tendências internacionais, não tenha produzido resultados significativos no sentido de incrementar os estudos históricos sobre os folhetos de cordel – embora se perceba já, tanto em alguns trabalhos de historiadores que utilizam o cordel ou em searas “vizinhas” como a da História da Imprensa e do Livro, uma diversificação regional das mais auspiciosas (já presente, aliás, no estudo clássico de L. Hallewell, O Livro no Brasil),[12] em consonância com os esforços institucionais de descentralização dos recursos para a pesquisa e fortalecimento das universidades federais.[13]

Não nos alongaremos sobre os motivos da possível (quase) não abordagem, pelos historiadores anteriores aos anos 1990, da literatura de folhetos brasileira. O que nos interessa ressaltar é que ela não significa que se tenha evidenciado, pela pesquisa, que o cordel brasileiro estivesse fora do seu alcance. Pelo contrário, e, para além do crescimento das pesquisas de historiadores sobre ou utilizando o cordel nos últimos anos, algumas delas notáveis, a evolução dos estudos desenvolvidos no âmbito das mais diversas áreas mostra que muitos deles conseguiram resultados importantes precisamente ao incorporarem procedimentos históricos e historiográficos, malgrado operando, por vezes, com modelos de interpretação hoje questionados, relativizados ou aprofundados, como aqueles do “coronelismo”, das relações de “compadrio” ou dos esquemas de poder da “República Velha”.[14] Tendo a pesquisa histórica avançado consideravelmente, tanto fora como dentro do Brasil, não só revisando esses modelos (e mesmo, em alguns casos, abordando o cordel), mas também produzindo conhecimento sobre aspectos do cotidiano das populações de diversas regiões do país, relativos ou de alguma forma próximos aos possíveis contextos de produção e performance do cordel, faz-se urgente o fortalecimento do diálogo interdisciplinar, de modo que a História incorpore com mais vigor o cordel como fonte sobre alguns dos temas que vem abordando de forma privilegiada, e que, ao mesmo tempo, ela seja incorporada no que tange à revisão e crítica de modelos interpretativos.


A História nas pesquisas sobre a literatura de folhetos do norte do Brasil

Note-se que a dinâmica dos estudos sobre o cordel aproxima-se de um enfoque histórico, ultrapassando as perspectivas formalistas, sem chegar a rejeitá-las, talvez devido à própria natureza desse objeto cultural estreitamente ligado a um determinado contexto de produção e recepção e a um ambiente oral. Evidentemente, e dentro dos propósitos deste artigo, não poderemos abordar todos os trabalhos sobre o cordel brasileiro que vêm se aproximando da História ou provenientes dessa área. Com vistas a um comentário mais aprofundado, escolheremos três deles – o que, nos parece, possibilitará uma maior concretude no que tange ao exame dos problemas e perspectivas envolvidos. Concomitantemente, destacaremos alguns desdobramentos recentes da História, que poderão ser úteis para uma revisão das interpretações sobre o cordel.

Uma pesquisa pioneira: Ruth Terra

Comecemos pela socióloga Ruth Terra, que elaborou uma pesquisa inovadora em sua dissertação de Mestrado, defendida em 1979 e publicada em 1983.[15] Nela, Terra procurou compreender o momento de surgimento e consolidação da literatura de folhetos no “Nordeste” brasileiro entre 1893 e 1930. Partindo de uma formulação de um dos principais historiadores que renovaram os estudos sobre “cultura popular” no século XX, o inglês E. P. Thompson, Terra vê, em Memória de lutas, o cordel em meio a uma contenda simbólica que adquire sentido apenas dentro de um equilíbrio determinado de relações sociais, a “cultura popular” não podendo ser analisada isoladamente deste “equilíbrio”. Este, porém, não implicaria uma visão estática. Pelo contrário, a autora parte de um panorama histórico essencialmente dinâmico das transformações por que passava a sociedade “nordestina” nas últimas décadas do século XIX, para nele inserir o surgimento da literatura de folhetos: a abolição da escravidão; o emprego do trabalho livre nos canaviais, em várias formas de parceria – moradores; a introdução de trabalho assalariado na produção de algodão e café que se inicia no Agreste e no Sertão, voltados tradicionalmente aos gêneros de subsistência e à pecuária; o início da instalação de usinas, em substituição aos engenhos; etc.

Em síntese, a autora afirma ter sido nesse contexto (mas não como puro reflexo do mesmo), em que houve

o aviltamento das condições de vida das camadas populares, e em que, com a introdução do trabalho assalariado ocorre a quebra de costumes e valores que tinham por base relações tradicionais de dominação fundadas numa rede de contraprestações de serviços e favores”, que teria tido lugar a “literatura de folhetos do Nordeste, escrita por homens pobres, atentos àquela realidade, que repercutirá na temática dos folhetos então produzidos.[16]

Nesse sentido, um marco teria sido a publicação regular, por Leandro Gomes de Barros, de seus folhetos, que teria possibilitado “esta literatura em toda sua especificidade”, tomando forma um “conjunto de textos em permanente reedição.” Teve início, assim, “um processo peculiar de produção e comercialização”, e constituiu-se “um público para esta literatura”.[17]

Observemos que a autora parece incorporar, ao menos em parte, a concepção de sistema literário de Antonio Candido,[18] fazendo desse processo de produção, comercialização, constituição de um público etc. um dos seus temas de pesquisa. Com efeito, o primeiro e um dos mais preciosos capítulos do livro reconstitui, por exemplo, a partir de várias fontes primárias como folhetos de coleções em arquivos e bibliotecas públicos, depoimentos orais, obras de memorialistas e documentos oficiais como registros de firmas, as condições de produção (editoras, editores, tipografias e tipógrafos) e difusão (comercialização: vendedores, formas e locais de venda) do folheto, analisando suas tiragens, preços e públicos, além de suas características materiais.[19]

No segundo capítulo, levanta e sistematiza dados biográficos sobre os poetas populares, deslindando suas origens e circuitos sociais e já delineando características de suas produções. Tal capítulo revela-se estratégico, na medida em que nele vai se desenhar uma condição social similar dos poetas e seu público – que além disso partilhavam a mesma cultura de tradição oral e o mesmo sistema de crenças e valores (embora os poetas aparecessem como privilegiados na medida em que tinham domínio da “cultura letrada”). É importante, porém, salientar que a autora destaca a diversidade desse mesmo público, posto que o cordel atingia o campo e a cidade, sendo os folhetos lidos ou ouvidos por trabalhadores assalariados, moradores, fazendeiros etc.[20] Os folhetos aparecem, em seu viés, como “mediadores entre o rural e o urbano, o litoral e o sertão, a cultura de tradição oral e a cultura escrita.”[21] Sem pretender reconstituir a singularidade pessoal de cada poeta, Terra acaba por traçar um panorama em que se destacam suas diferenças sociais, ideológicas e mesmo religiosas (enquanto a maioria dos poetas é católica, José Adão, por exemplo, declara não o ser; por outro lado, defende a liberdade de culto prevista na Constituição e, como os demais, se refere pejorativamente aos “nova-seitas”).[22] Essa sensibilidade para a diversidade não abandona o enfoque da autora, mesmo quando trabalha com a concepção de que cada poema faria parte de um “texto único”. Ao longo do capítulo, fica clara a relação entre o macro-contexto histórico bosquejado na introdução e as trajetórias individuais dos poetas que são de origem rural, descendentes de pequenos proprietários e que deixam o campo por dificuldades de sobrevivência, fazendo-se errantes que produzem e comercializam folhetos.

Todos esses fatores: estudo do contexto histórico em que se dá a eclosão da literatura de folhetos; pesquisa das características materiais dos folhetos, bem como dos circuitos de produção e difusão dos folhetos; prosopografia dos poetas, atenta a seus aspectos comuns e à sua diversidade; e, principalmente, cotejo crítico de vasto e diversificado material empírico, são características que tornam o enfoque de Ruth Terra bastante próximo ao dos historiadores. Além disso, ela trabalha com a noção da historicidade dessa literatura, chegando, em percurso intelectual próprio (na pequena Bibliografia Geral destacam-se várias obras de história,[23] além dos estudos de G. Bollème sobre a “Bibliotèque Bleue” e de Duglas Monteiro sobre o Contestado – este, em viés antropológico, mostra a História de Carlos Magno como leitura dos rebeldes)[24] a formular o problema da historicidade da própria leitura dos folhetos.[25]

Mas o que a autora acaba desenvolvendo mais ao longo do livro é a questão dos temas que permeiam essa literatura.[26] Ao invés de classificá-la estaticamente em assuntos ou “ciclos”, o que não seria de se estranhar nos anos 1970,[27] ela procura, por trás da distinção tradicional, já de si bastante genérica, entre romances, pelejas e poemas de época, uma unidade que relativiza essa mesma distinção, “evidenciando que cada texto se vincula aos demais”. Assim, norteia a sua análise a observância, a partir do 3º capítulo, da impossibilidade de recorte isolado de qualquer tema, uma vez que, na gama dos textos, se verificaria plena intercorrência do modelo narrativo assim como dos valores e do universo simbólico, que forneceriam uma linha de base para essa literatura. Terra trabalha destarte com uma instância constante que é a “trama dos textos, que conduz à idéia de cada poema enquanto fragmento de um texto único”,[28] conquanto se possa afirmar que esse texto único não se apresente em sua análise como um todo homogêneo, sendo composto também de pontos de vista diversificados e/ou conflitantes, que formam uma rede entrelaçada mas heterogênea. Sua exegese indica a “unidade subjacente a estes textos-fragmentos ao nível da temática, da estrutura narrativa, dos valores e do universo simbólico”,[29] o que desmantela a parafernália erudita que faz dos esquemas a-históricos de classificação o próprio objetivo da pesquisa, e introduz a centralidade do estudo do momento de quebra dos costumes e valores sociais tradicionais.

De forma estratégica, a autora estabelece como prioridade a análise dos chamados “poemas de época” (poemas sobre movimentos sociais e políticos e crítica de costumes).[30]  Dentre estes, seleciona os que tratam do cangaço (capítulo IV), das salvações do Norte, da sedição de Juazeiro (cap. V) e da Primeira Guerra (cap. VI), em virtude da recorrência entre os planos do real e do imaginário, que é um de seus objetivos tornar evidente, e do estabelecimento de uma crônica do momento histórico “feita a partir da ótica dos dominados” (lembre-se que esta última perspectiva é, mais uma vez, afim com a da historiografia marxista dos anos 1950 a 70, de Hobsbawm e Thompson,[31] que levou adiante o projeto de estabelecer, através do cordel, uma história do Brasil “a partir de baixo”). E, desse prisma, Terra assevera que, nos folhetos considerados, a violência se fez presente não apenas ao nível das relações pessoais, mas sobretudo das relações sociais e políticas. Apoiada no então recente estudo de Maria Sylvia de Carvalho Franco, Homens livres na ordem escravocrata, de 1969, fala na violência que corresponde a todo um sistema de valores centrados na coragem pessoal, tida como conduta legítima e socialmente sancionada. Por outro lado, e inspirando-se em parte, aqui como em outros pontos, possivelmente, em Foucault, procura questionar o enfoque tanto do folclore como de certo marxismo, pensando a literatura de folhetos não como um “discurso fechado no qual se pudesse buscar uma ‘lógica pura’ quer do dominante, quer do dominado.” Afirma, destarte, perseguir “o sentido dessa fala múltipla na circunstância histórica em que se deu.”[32]

Assim, seja na análise da biografia dos poetas, da estrutura física e dos esquemas de produção e comercialização dos poemas, seja na crítica implícita ao viés formalista e classificatório, seja no esforço de contextualização ou ainda no estudo dos modelos narrativos e da presença dos “costumes, valores e mesmo queixas do Nordeste” em pelejas ou romances, abre-se todo um universo para a exploração desse material do ponto de vista da compreensão de seu significado histórico e da memória social. Acredito que, por todos esses motivos, e ainda por desbravar, em visada empirista, documentação inédita, de arquivo e bibliográfica, e valendo-se de depoimentos pessoais, Ruth Terra elaborou um texto que, apesar do tom engajado que tende por vezes à idealização, se aproxima talvez mais de algumas vertentes contemporâneas da historiografia social e da cultura que dos modelos sociológicos do marxismo uspiano, vigentes nos anos 1970, quando a maior parte de sua pesquisa foi feita. Outrossim, seu trabalho parece ter inspirado (ou ter sido uma das inspirações de) várias pesquisas importantes, como as de Ayala[33] e Sousa Lima,[34] que também se apropriaram, parcialmente, de métodos ou enfoques históricos[35]. Estudos recentes, com os de Julie Cavignac e Márcia Abreu, dentre outros, mostram que Memória de Lutas ainda fornece subsídios válidos – embora, e como era de se esperar, muito do que apresenta também tenha sido ou precise ainda ser superado ou aprofundado.[36]

A peleja de Francisco Romano e Inácio da Catingueira: Linda Lewin

Um outro estudo notável, desenvolvido em anos bem mais recentes, é o da profa. do depto. de História da Universidade da California (Berkeley) Linda Lewin. Seu artigo “Um conto de dois textos”[37] é um dos resultados de uma pesquisa sobre uma única e já arqui-comentada peleja, ocorrida no contexto de declínio da escravidão no interior da Paraíba, e que procura, a partir de um cotejo crítico rigoroso entre fontes orais, documentos de arquivo e folhetos de cordel, reconstruir seu contexto de performance, bem como alguns dos sentidos prováveis do embate. Seu enfoque afasta-se da perspectiva do “texto único”, em alguma medida tributária do estruturalismo, de Ruth Terra, e adota uma perspectiva afim, por exemplo, com a do antropólogo C. Geertz em seu célebre estudo sobre a luta de galos em Bali,[38] apesar de direcionada para a percepção de clivagens sociais e raciais e servindo-se, de forma decisiva, da História Oral. Filia-se, por outro lado, à tradição historiográfica norte-americana de trabalhos monográficos apoiados em vasta pesquisa empírica – mas acompanhando sua vertente atual e interdisciplinar de exploração, em múltiplos níveis, da questão da teatralidade e da performance. Parece aproximar-se, também, da corrente da “micro-história”, que descortina um todo social a partir do estudo aprofundado de uma biografia ou de um único evento ou contexto.[39] Além disso, a historiadora concilia a investigação minudente da trama social com uma leitura que tenta identificar elementos formais dos textos de cordel – ao mesmo tempo procedendo a sua crítica enquanto portadores de memórias socialmente construídas. Nesse sentido, seu trabalho mostra – tal como outros trabalhos recentes[40]– como a História Social pode ser decisiva no resgate do significado dos textos de cordel (particularmente no que tange à recuperação de um contexto e à busca e crítica sistemáticas dos documentos e da memória).

Caracteristicamente, o artigo se inicia descrevendo o evento e as questões mais imediatas que ele envolvia, inserindo o leitor, progressivamente, no universo dos organizadores, do público ouvinte e dos protagonistas do desafio. Na verdade, é  impossível avaliar tal artigo sem embarcar em sua estratégia discursiva, largamente utilizada pelos historiadores após o chamado “retorno da narrativa”:[41] Em 1874, na véspera da Festa de São Pedro, ocorreu um evento em Patos, sertão da Paraíba. Um aclamado cantador, Francisco Romano, concordou em participar de uma disputa preparada para desafiar seu título de rei dos cantadores. Romano, que não cantava com qualquer um que o desafiasse, pôs à prova sua fama contra alguém cujo talento era praticamente desconhecido: Manuel Inácio, um escravo analfabeto de Catingueira, um povoado próximo. Os entusiasmados apoiadores de Catingueira, dois abastados irmãos proprietários de terras em Catingueira, Firmino e Crisanto Ayres Albano da Costa, persuadiram Romano a viajar para Patos. A disputa foi realizada em uma latada, erguida ao lado da Igreja da N. Senhora da Conceição. Mais tarde, aparentemente, ela foi transferida para dentro da casa do Tn.-Cel. Firmino Ayres.[42]

Embora Patos fosse eqüidistante de Mãe d’Água e Catingueira, Firmino e Crisanto organizaram naquele centro comercial seu desafio por outra razão. Eles planejaram o espetáculo poético como uma atração patrocinada pela família, como parte da celebração do casamento de uma de suas irmãs. A afirmação de que “Patos inteira” testemunhou o desafio implicava, portanto, em centenas de visitantes forasteiros que, como parentes, arrendatários e escravos, acompanharam as famílias da noiva e do noivo ao local do casamento.[43]

A partir desse momento, a análise, sempre descritiva, vai se adensando, passando a resgatar a obscura biografia dos protagonistas, que mostra a complexidade de sua inserção na sociedade local: progressivamente, os dois célebres cantadores aparecerão em sua posição social ambígua, gerados por prestigiosos brancos proprietários de terras e mulheres de cor.[44] Inácio, porém, era socialmente inferior a Romano, pois era escravo. Em meio à investigação sobre o ambiente social e familiar de Inácio, Linda Lewin evoca descrições de sua aparência física e voz inconfundível, o que colabora para seu objetivo de reconstruir o contexto de performance da peleja.[45]

Em seguida, a autora comenta as publicações de textos poéticos do desafio de Patos, que começaram a aparecer em 1903. Seleciona para exame dois desses textos variantes, publicados em cordel, os quais denomina “Texto Teixeira” e “Texto Catingueira”, estudando sua inserção no universo dos poetas, cantadores e editores de cordel (bem como no universo social mais amplo). Apoiada na análise de características formais, atribui o Texto Teixeira ao poeta Ugolino do Teixeira, apesar das reivindicações de Francisco das Chagas Batista, que o publicou e atribuiu a Romano. Já o Texto Catingueira é proposto como eco da versão do próprio Inácio. A história de sua publicação é fascinante, e revela paciente e extenso trabalho de pesquisa.[46]

No escrutínio propriamente dos textos, Lewin contrasta suas versões para o evento: no Texto Teixeira, o vitorioso emerge claramente, sendo ele F. Romano, e a razão da vitória é apresentada como seu domínio da “ciência”: a arma especial de extrair conhecimento dos livros.[47] Além disso, a forma como nele aparece o insulto poético é particularmente reveladora: diferentemente de outras variantes do desafio de Patos, o Texto Teixeira confere pouca atenção ao marcador fundamental da identidade social e racial inferior de Inácio. Esse marcador, que é duplo, ressalta-lhe a condição de escravo e a aparência física de homem negro.[48]

Já o Texto Catingueira apresenta soluções completamente diferentes: em primeiro lugar, Inácio aparece como o vencedor do desafio, não obstante as razões pelas quais ele vence precisarem ser inferidas. No que se refere à questão do insulto poético, a pilhéria de Romano em relação à condição de escravo e negro de Inácio sobressai como central nas trocas poéticas. Parecendo acompanhar outros comentários da peleja, embora de forma mais precisa e detalhada, a autora argumenta que o que historicamente teria tornado esse texto mais “memorável” na consciência popular teria sido precisamente o fato de Inácio ter devolvido esses insultos usando uma linguagem tão depreciativa quanto a de seu oponente – ou até mais, mirando-lhe o calcanhar de Aquiles, sua suposta brancura.[49] Na análise de um texto truncado e elíptico (ao menos para nós, leitores de outros contextos), percebe-se que Romano se exaspera com a zombaria de Inácio, introduzindo um tópico que inicialmente se havia combinado não faria parte da disputa, o da “ciência”,[50] e que Inácio acaba reconhecendo estar além de suas forças. Todavia, é Romano quem, no final, admite ter sido derrotado.

A autora se esforça para explicar como teria precisamente se dado essa derrota, evocando fatores ligados à performance de ambos os cantadores. Assim, uma tradição oral registrada por Cascudo ressaltava o pandeiro “mágico” de Inácio;[51] segundo Cascudo, Inácio teria sido o último cantador de desafio a se fazer acompanhar pelo pandeiro, um instrumento que, para Lewin, o folclorista deixou de dizer que revelava a verdadeira identidade de Inácio: a de “embolador”. Conforme a autora, essa identidade teria sido decisiva no desafio de Patos, no qual duas tradições musicais distintas teriam se chocado – uma remetendo a uma linha de emboladores afro-brasileiros, a outra, à “caboclização” de um gênero musical-poético importado de Portugal.[52] Sem embargo, não estava aí o “significado essencial dos versos que os poetas lançaram entre si.” O fato mais importante é que Inácio teria exposto Romano ao ridículo, como um fanfarrão cuja brancura se baseava em auto-proclamação, tendo-o feito em um contexto de performance e em um momento histórico em que isso era particularmente significativo. Suas réplicas agradaram

um público em massa que havia começado a experimentar mudanças fundamentais na ordem social prevalecente, baseada historicamente nos “brancos da terra”, que, enquanto proprietários de escravos, impunham uma deferência social externa, senão uma obediência interna. A receptividade popular à refutação de Inácio ao desdém aferroado de Romano merece, portanto, ser interpretada à luz da mudança social no sertão nos anos de 1870.[53]

Assumindo uma escrita francamente histórica, Lewin passa a delinear esse contexto (proibição do tráfico de escravos em 1850, Lei do Ventre Livre em 1871, revolta do Quebra-Quilos etc.). Em meio a ele, a peleja de Romano e Inácio teria exposto a contradição das distinções sociais chave no sertão – aquelas que opunham livres a escravos, brancos a negros – , frente a uma audiência preponderantemente de cor, na qual havia muitos descendentes de escravos ou ex-escravos, junto a outros ainda mantidos em cativeiro.[54]

O que nos interessa ressaltar dessa análise é que, assim como a de Terra, mas em um outro contexto acadêmico e com referências teóricas e diretrizes muito diversas, ela mostra não apenas um diálogo com a História, mas a fecundidade da apropriação de métodos historiográficos e pesquisas recentes – conjugados a métodos e pesquisas de outras áreas. Assim, por exemplo, o cotejo sistemático das fontes escritas e orais para o resgate de uma determinada “realidade” histórica é um procedimento estrutural de investigação, que permite “superar” as narrativas lendárias (que, evidentemente, também tem o seu valor próprio, constituindo parte de um enigma mais amplo) e outros comentários acadêmicos da peleja.[55] Ademais, nela o cordel aparece como cristalizador de uma memória coletiva sujeita a disputas atravessadas pelas clivagens livres/escravos e brancos/negros, em suas gradações e ambigüidades. Estabelecendo um diálogo com as evidências empíricas e com a bibliografia histórica específica, sobre temas como a escravidão, as revoltas populares e o abolicionismo, revela-se possível adentrar os significados mais profundos do desafio – e não apenas enunciá-los, de um ponto de vista teórico ou ensaístico.

A questão da origem portuguesa

Outro trabalho que se debruça sobre o momento de surgimento e consolidação da literatura de cordel, trazendo um enfoque histórico inegável, é o da Profa. de Literatura da Unicamp Márcia Abreu, Histórias de cordéis e folhetos.[56] Embora formulado em linguagem didática, encontrando grande repercussão nos meios ligados aos cantadores e cordelistas, ele tem origem acadêmica[57] e está apoiado em pesquisa com fontes primárias, tendo suscitado debates ainda em curso.[58] Destaque-se, no mais, que a autora tem orientado várias pesquisas sobre o cordel nordestino, tendo atuação no sentido de promover e aprofundar seu estudo.

No livro, Abreu se propõe o confronto de duas produções culturais que argumenta serem freqüentemente associadas de uma forma genérica e imprecisa: a literatura de cordel portuguesa e a literatura de folhetos do “Nordeste” do Brasil. 'A tendência, reforçada por estudos como os de Jerusa Pires Ferreira[59] e Silvano Peloso,[60] bem como por grande parte do pensamento contemporâneo,[61] de centrar a atenção nos hibridismos, intertextos, “adaptativos” e apropriações, a autora contrapõe o cotejo entre os contextos e textos de Portugal e Brasil, pretendendo deixar clara a distância que haveria entre eles.

No capítulo “Literatura de Cordel Portuguesa”, Abreu destaca a grande dificuldade de se definir tal literatura. As características físicas dos folhetos, aliadas à maneira de vendê-los,  teriam sido os atributos mais recorrentes nas definições – o que, para a autora, seria insatisfatório. Outros problemas dificultariam a conceituação do cordel português: os temas, o gênero e a forma. Isto porque não haveria constância em relação aos mesmos: a variedade de temas, gêneros e formas publicados sob a rubrica “literatura de cordel” seria enorme.

Toda dificuldade estaria no fato de não se assumir que não haveria, realmente, nada a unificar esse material, a não ser a questão editorial. Seguindo algumas considerações de Chartier em seu artigo “Textos e edições: a ‘literatura de cordel’,[62] ela afirma que o cordel foi uma fórmula editorial que permitiu a divulgação de textos de origens e gêneros variados para amplos setores da população, não sendo aliás uma criação portuguesa, já que se encontrariam publicações similares em quase todos os países europeus.[63]

Em seguida, no capítulo “A literatura de cordel portuguesa atravessa o Atlântico”, Abreu vai perseguir as evidências concretas da chegada de publicações lusas no Brasil desde o período colonial, utilizando procedimentos próprios da história do livro – campo de estudos cada dia mais forte no Brasil.[64] Procura, ademais, vislumbrar certos padrões narrativos nos folhetos portugueses de maior sucesso, chegando a uma série de características que procuramos resumir nos itens abaixo:

  • praticamente todas as histórias têm sua trama estruturada a partir do confronto entre um herói e um vilão. A partir de uma situação de equilíbrio, em que reinam a paz e a harmonia entre os personagens, surgirá um ponto de tensão, que levará ao confronto entre o herói e o vilão, colocados frente a frente, em ação;

  • a organização da narrativa sustenta-se no encadeamento das ações; não há caracterização de cenário, ambiente, descrição de paisagens ou situações que não envolvam atitudes dos protagonistas;

  • o narrador não abandona jamais o eixo central da trama;

  • os personagens têm sobretudo e principalmente atributos morais;

  • as histórias passam-se entre os nobres, e veiculam uma imagem de harmonia social em que pobres e ricos vivem em simbiose;

  • o tempo e o espaço das histórias são pouco caracterizados, o que remete aos contos de fadas, que instauram um tempo e um espaço próprios, que podem ser em qualquer época e qualquer local. Dessa forma, os valores pregados pelos textos podem ser entendidos, pelos leitores, como norteadores de conduta no tempo presente, não se referindo, necessariamente, a um tempo passado;

  • o significado mais profundo das narrativas é a luta do bem contra o mal, dentro de um mundo ideal onde não cabe a crítica social e onde há uma ordem política ideal, capaz de unir pobres e ricos na busca da justiça e da bondade[65]

O cerne do argumento da autora é que todas essas características nada tinham em comum com a literatura de folhetos no Nordeste brasileiro, que ela passa a estudar nos capítulos “Formação da poética nordestina”, “Literatura de folhetos nordestina”, “Outro passeio, uma poética” e “O pressuposto da origem portuguesa”.

Podemos começar a resumir esses capítulos da seguinte maneira. Diferentemente da literatura de cordel portuguesa, que não possuía uniformidade, a literatura de folhetos produzida no Nordeste do Brasil era bastante codificada. Poder-se-ia, inclusive, acompanhar o processo de constituição desta forma literária examinando-se as sessões de cantoria e os folhetos publicados entre finais do século XIX e os últimos anos da década de 1920, período no qual se teriam definido as características fundamentais desta literatura, chegando-se a uma forma “canônica”.[66] É isso o que Abreu pretende fazer, desenvolvendo a idéia de que a literatura de folhetos iniciou seu processo de definição nesse espaço oral, “muito antes que a impressão fosse possível”.[67] No entanto, esse processo é reconstruído um tanto hipoteticamente, centrando-se a autora na história dos cantadores, em algumas evidências (a memória de poetas em obras de folcloristas ou folhetos recordando velhas pelejas), e na observação da temática das narrativas iniciais (os desafios e as estórias de bois valentes e insubmissos). Estas últimas apoiavam-se na experiência da sociedade local, sendo o chamado “ciclo do boi” uma aparente criação que trazia como inovação o fato de os heróis serem os bichos, que por vezes assumiam a voz narrativa e simbolizavam a liberdade e a valentia em contraposição aos homens que representavam a ordem: “A identificação do poeta e, provavelmente, do público convergia para os bichos, mesmo que seu fim fosse a morte. [...]”[68]

Já estão aí, pois, apresentadas várias diferenças do cordel “nordestino” em relação ao cordel português: a origem social dos cantadores e seu público; os temas situados no espaço e no tempo, e protagonizados por personagens locais; uma relação mais complexa de identificação entre o “bem” e o “mal”.

Porém, o ponto estratégico a ser ressaltado seria o da estabilização de uma forma para os folhetos “nordestinos”: a da sextilha setessilábica no esquema ABCBDB, com determinado número de estrofes. O abandono das quadras e outros esquemas, que tiveram existência simultânea por certo período, teria sua explicação no contexto imediato das cantorias, em que a sextilha setessilábica se teria firmado após ser comprovada sua eficácia e “maior conforto”:[69]

Nos desafios, cada cantador dispunha de uma – e apenas uma – estrofe para responder às perguntas e provocações de seu oponente [...]. Tarefa difícil quando se dispõe de apenas quatro versos. Situação semelhante ocorria na apresentação das narrativas, nas quais cada estrofe deveria conter uma unidade de sentido completa, desenvolvendo um tópico do tema. [70]

A dinâmica da memória – único recurso de conservação de produções intelectuais em uma cultura oral – estava, também, para a autora, no cerne da questão.[71]

É só a partir desse momento que a argumentação mergulhará na história propriamente dita da produção dos folhetos impressos, retomando as narrativas que enfatizam o papel pioneiro de Leandro Gomes de Barros, a biografia dos primeiros poetas etc. Em síntese, entre o final do século XIX e os anos 20, a literatura de folhetos consolidou-se: definiram-se as características gráficas, o processo de composição, edição e comercialização e constituiu-se um público para essa literatura.

Nada nesse processo parece lembrar a literatura de cordel portuguesa. Aqui, havia autores que viviam de compor e vender versos; lá, existiam adaptadores de textos de sucesso. Aqui, os autores e parcela significativa do público pertenciam às camadas populares; lá, os textos dirigiam-se ao conjunto da sociedade. Aqui, os folhetos guardavam fortes vínculos com a tradição oral, no interior da qual criaram sua maneira de fazer versos; lá, as matrizes das quais se extraíam os cordéis pertenciam, de longa data, à cultura escrita. Aqui, boa parte dos folhetos tematizavam o cotidiano nordestino; lá, interessavam mais as vidas de nobres e cavaleiros. Aqui, os poetas eram proprietários de sua obra, podendo vendê-la a editores, que por sua vez também eram autores de folhetos; lá, os editores trabalhavam fundamentalmente com obras de domínio público.[72]

Todavia, o ponto central diria respeito mesmo à forma, já que no Brasil teria se produzido uma forma fixa, “criada” localmente. Nisto residiria a característica fundamental dos folhetos nordestinos, que se pautariam por regras rigidamente estabelecidas, conhecidas por autores e público, e mantidas por todos ao longo do tempo.[73] Este conjunto de regras implicava uma teoria poética e uma estética, a partir das quais se estabelecia o critério de distinção entre bons e maus poemas,  envolvendo o respeito à estrutura material dos folhetos, às características de rima e métrica e à chamada “oração”, como seja a exposição clara de uma única história, de “um sentido só”.[74]

Assim, verifica-se que o esforço de Abreu assume, em parte, o caráter de uma pesquisa histórica, utilizando inclusive algumas fontes primárias típicas (pedidos de autorização para remessa de livros de Portugal para o Rio de Janeiro, depoimentos etc.) e cotejo de documentos. Mais importante, porém, é o fato de sua argumentação conferir um grande destaque à questão da forma e, concomitantemente, um peso muito maior do que o usual à História – este último ao deslocar o estudo do cordel totalmente para o contexto brasileiro, tornando inevitável, como desdobramento – ao menos em tese –, um maior diálogo com os historiadores. Dessa dupla ênfase acabam surgindo muitas questões.

Sem entrarmos na discussão do panorama que Abreu traça da literatura de cordel portuguesa, observaremos que sua caracterização dos folhetos “nordestinos” enfatiza não suas ambigüidades, mas sua univocidade: a “teoria poética” dos folhetos envolve o respeito à estrutura material, às características de rima e métrica e à exposição clara de uma história de “um sentido só”. Ora, isso pode ser problematizado quando examinamos os folhetos mais antigos (por exemplo, os da coleção Mário de Andrade (Arquivo IEB-USP)), fato que Abreu reconhece mas que contorna ao bater-se em favor de uma fase de “coexistência” de padrões –, ou mesmo se atentarmos para a pluralidade de técnicas e condições de produção e consumo dos folhetos ao longo de toda a sua história.[75] Certa heterogeneidade narrativa e formal de algumas histórias muito famosas, como as “Proezas de João Grilo”, também nos levam a relativizar e nuançar aquele quadro, assim como os estudos centrados nas mesclas, apropriações e “adaptativos” dos folhetos.

Outrossim, Abreu, ao caracterizar os folhetos do “Nordeste” como populares a partir da biografia dos cordelistas, aceita certa definição de Ruth Terra mas deixa de lado outras, que enfatizam a diversidade social do universo do público leitor e ouvinte dos folhetos,[76] e que nos permitiriam, em princípio, uma maior atenção para as suas ambigüidades, heterogeneidades e pluralidade de apropriações – algo a ser testado no exame sistemático de fontes primárias.

Por outro lado, ela vê o surgimento da forma do cordel nordestino como ligado à consolidação de determinadas formas mais favoráveis à memorização. Ora, isso nos parece em parte questionável. Podemos, é certo, considerar que a “origem” - ou antes, como observa Santos,[77] a “escolha” - da forma esteja ligada à dinâmica da cultura oral. Contudo, além de as “informações e trechos de poemas guardados na memória de antigos poetas entrevistados por folcloristas ou reconstituições feitas em folhetos recordando velhas pelejas”,[78] habilmente utilizados pela autora, disso não nos darem evidências cabais, poderíamos, igualmente, nos perguntar: por que a consolidação dessa forma teria se dado apenas quando essa poesia passou a ser impressa maciçamente? Não poderíamos pensar ser a própria palavra impressa um fator para o processo de cristalização dessa forma?

A “cristalização” teria a ver assim com outras formas de interação entre o oral e o escrito, na medida em que, dentre outros fatores, a elaboração de poemas a serem publicados como folhetos de cordel era uma atividade com uma especificidade própria, que tendia a liberar o poeta da atividade de cantador.[79] Desse prisma, poderíamos ver a cristalização da forma como uma das marcas de distinção da poesia escrita, o que estaria em acordo, por exemplo, com as evidências do sentimento de distinção dos poetas “de gabinete”, bem como de sua maior independência em relação aos cantadores. Essa visão, sem negar a evidente continuidade das interações múltiplas entre o oral e o escrito, nos ajudaria, ademais, a entender a natureza que passam a assumir certas disputas simbólicas, como aquelas no interior do gênero do marco.

Mas a questão mais complicada talvez seja o modo como Abreu define a forma do cordel “nordestino”. Ora, a base principal para tal definição parece ser retomada a partir das “memórias em disputa” de poetas e cantadores, e decalcada, sobretudo, por agentes como o cordelista  Rodolfo Coelho Cavalcante, a partir dos anos 1950, quando o cordel procura se institucionalizar e reagir, de forma “purista”, a um conjunto de transformações, dentre as quais a concorrência do cordel paulista, que rapidamente se alastra. Nesse caso, a maior atenção a questões como a da construção social da memória e das identidades, implicando uma historicização mais radical das fontes, teria sido profícua.

Considerações finais

Nossa análise procurou dar exemplos de diálogo entre pesquisadores que se debruçaram sobre o cordel brasileiro e a História. Nesse sentido, passamos em revista alguns trabalhos que se apropriaram, a partir dos anos 1970, dos métodos e pesquisas históricos, conseguindo, como vimos, resultados significativos e hipóteses instigantes. Vimos também que, nesse diálogo, pesquisadores de outras áreas vêm colocando questões importantíssimas, que um historiador dificilmente colocaria, por estarem fora de sua competência, mas que ele talvez possa ajudar a responder, uma vez que estão colocadas. Eles vêm formando, pois, para o historiador, um rico acervo de idéias, questões, resultados e hipóteses de que ele deve dispor, utilizar e pesquisar, a partir de sua própria ótica.[80]

Desse modo, um grande problema nos parece ser, no momento, a relativa escassez de historiadores pesquisando o cordel brasileiro. O livro do historiador Durval Albuquerque Jr.,[81] que acaba por propor o tema do papel do cordel na construção da idéia de nordeste, focalizando principalmente o uso que dele fizeram escritores, músicos, pintores etc., vem sendo um dos pontos de partida que questionam conceitos subjacentes a parte dos trabalhos mais antigos sobre o assunto (note-se que, no Brasil, a discussão sobre a “invenção das tradições” e a construção das identidades[82] também vem tendo na História um de seus principais focos). Todavia, tal estudo não traz uma noção muito clara da complexidade dos fatores envolvidos na abordagem da “cultura popular” (não sendo este, aliás, o seu objetivo).

Uma tal noção está presente, por outro lado, em vários dos trabalhos mais recentes, como por exemplo o do historiador Francisco Ramos sobre o imaginário dos devotos do Padre Cícero. Este, utilizando outras fontes preciosas como as cartas endereçadas ao Padre, leva a efeito uma leitura dos cordéis com essa temática. Dentre outros aspectos, Ramos procura compreender os vínculos de proteção no tocante aos laços que se estabeleceram entre os devotos e o Padre Cícero, complexificando as interpretações sobre o assunto.[83] (Note-se que tal obra poderia ter sido aproveitada na atualização do segundo capítulo do importante trabalho de Francisco de Assis Sousa Lima, Conto popular e comunidade narrativa, reeditado em 2005).[84]

A propósito, e partindo de outros problemas e métodos, a historiadora M. Dantas mostra, em denso estudo empírico, publicado em 2007, centrado na análise de documentos de arquivo pessoal e de natureza judicial, como os vínculos de proteção foram utilizados pelas populações pobres da Comarca de Itapicuru na Bahia ao longo do século XIX segundo suas estratégias de sobrevivência, reconstruindo redes de sociabilidade e auto-ajuda elucidadoras de valores e costumes totalmente pertinentes ao universo do cordel, embora anteriores ao seu surgimento[85] (ver também o conjunto de artigos sobre revoltas e movimentos populares do século XIX, organizado pela mesma autora, o qual fornece um panorama das pesquisas recentes sobre o tema, dentro e fora do Brasil).[86] Coerente com seus métodos, tributários da história social e do cotidiano, e recorte cronológico, a historiadora em nenhum momento menciona os folhetos de cordel; mas seu estudo, discorrendo sobre a formação do Arraial de Canudos, possibilita que de alguma forma se tangencie o assunto, posto que, por exemplo, e como se sabe, há fragmentos de poemas que foram lá encontrados, os quais dialogam com a forma do cordel em um momento – os anos 1890 – em que, reza a lenda, ele já estaria sendo escrito e publicado por Leandro Gomes de Barros.[87]

Assim, e apesar das poucas mas honrosas e importantes exceções, dentre as quais cumpre evocar, novamente, em levantamento não exaustivo e certamente incompleto, as teses, dissertações e outros trabalhos que citamos nas notas deste artigo, surgidos a partir dos anos 1990, nosso principal argumento se mantém. Se os estudos sobre o cordel brasileiro certamente se beneficiaram e beneficiarão de uma maior atenção aos métodos e problemas que vêm sendo desenvolvidos pela História nas últimas décadas, sendo também desejável um maior diálogo com os resultados das pesquisas históricas recentes sobre seu contexto social, econômico e cultural, será importante que aos historiadores caiba afinal, também, o mais amplamente demonstrá-lo.

 

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Notas

[1].R. Chartier, “Cultura popular: revisitando um conceito historiográfico”, Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 16, pp. 179-192, 1995; E. P. Thompson, Costumes em comum, São Paulo, Cia. das Letras, 1998; P. Burke, O e é história cultural?, Rio de Janeiro, Zahar, 2008, p. 40.

[2]. Ver, por exemplo, O. L. da S. Dias, “Hermenêutica do cotidiano na historiografia contemporânea”, Projeto História, n. 17, nov. 1998; Martha Abreu, O império do Divino. Festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro, 1830-1900, Rio de Janeiro, Nova Fronteira/São Paulo, FAPESP, 1999, pp. 27-29; Batalha et al. (orgs.), Culturas de classe, Campinas, Ed. da Unicamp, 2004; I. M. de F. Lima, Maracatus e maracatuzeiros: desconstruindo certezas, batendo afayas e fazendo histórias, Recife, Bagaço, 2008, pp. 44-45.

[3]. Ver R. Chartier, A história cultural: entre práticas e representações, Lisboa, DIFEL, 1990; A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII,  Brasília, editora da UNB, 1994; “Cultura popular: revisitando um conceito historiográfico”, art. cit.

[4]. Ver por exemplo R. Cantel, La littérature populaire brésilienne, Poitiers, CRLA, 2005, p. 368; Idelette Muzart Fonseca dos Santos, Em demanda da poética popular – Ariano Suassuna e o movimento armorial (2ª. ed. revisada), Campinas, Ed. da Unicamp, 2009.

[5]. D. M. de Albuquerque Jr., A invenção do nordeste e outras artes, São Paulo, Cortez/ Recife, FJN, Massangana, 1999.

[6]. Ver, dentre outros: A. Candido,  Literatura e sociedade, São Paulo, Nacional, 1965 e “Dialética da malandragem”, In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 8, São Paulo, USP, 1970, pp. 67-89; H. Vianna, O mistério do samba, Rio de Janeiro, Zahar/Editora UFRJ, 1995; M. Abreu,  Op. Cit.; M. Napolitano, A Síncope das ideias. A questão da tradição na música popular, São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2007; J. M. Wisnik, Sem receita – ensaios e canções, São Paulo,  Publifolha , 2004.

[7]. Ver M. I. N. Ayala, No arranco do grito – aspectos da cantoria nordestina, São Paulo, Ática, 1988; J. Pires Ferreira, Cavalaria em cordel: o passo das águas mortas, São Paulo, Hucitec, 1979; Julie Cavignac, A literatura de cordel no Nordeste do Brasil. Da história escrita ao relato oral, Natal, Ed. da UFRN, 2006; I. Muzart-Fonseca dos Santos, La littérature de cordel au Brésil: mémoire des voix, grenier d'histoires, Paris, L'Harmattan 1997; S. Peloso, O canto e a memória: história e utopia no imaginário popular brasileiro, São Paulo, Ática S., 1996.

[8]. Ver, dentre outros, E. Ramos, Du marché au marchand. La gravure populaire brésilienne, Musée du dessin et de l'estampe originale de Graveline, 2005; A. M. de O. Galvão, Cordel: leitores e ouvintes, Belo Horizonte, Autêntica, 2006.

[9]. Uma exceção são os estudos históricos que utilizam ou estudam folhetos sobre o cangaço (os quais tiveram à disposição, no âmbito do marxismo, o trabalho de Hobsbawm e seu Bandidos, publicado originalmente no final dos anos 1960). Ver, por exemplo, Verissimo de Melo, O ataque de Lampião a Mossoró através do romanceiro popular, Natal, 1953, além dos fundamentais trabalhos de Frederico Pernambucano de Mello (Guerreiros do Sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil, Recife, Fundação Joaquim Nabuco, Massangana, 1985 (segunda edição: 2004)), Billy Chandler (Lampião, o rei dos cangaceiros, trad. de Sarita Barsted, São Paulo, Paz e Terra, 1981 [a edição original, em inglês, é de 1978]) e Linda Lewin “Oral tradition and elite myth: the legend of Antonio Silvino in Brazilian popular culture. In: Journal of Latin American Lore, 2, p. 157-204, 1979. Segue um pequeno e certamente incompleto levantamento de trabalhos de historiadores que estudaram diversas temáticas no cordel nos últimos 20 anos: F. Ramos, O verbo encantado. A construção do Pde. Cícero no imaginário dos devotos, Ijuí, Editora da Unijuí, 1998; L. Hata, O Cordel das Feiras às Galerias, Dissertação de Mestrado, Campinas, IEL-UNICAMP, 1999; P. M. Beattie, Tribute of blood: army, honor, race, and nation in Brazil (1864-1945), Durham, NC, Duke University Press, 2001 (Tradução brasileira: Tributo de sangue. Exército, honra, raça e nação no Brasil, 1864-1945. Trad. Fábio Duarte Joly, São Paulo, Edusp, 2009; E. GRUNSPUN-JASMIN, Lampião, vies et morts d'un bandit brésilien, Paris,  PUF, 2001 (tradução brasileira: Lampião, senhor do sertão: vidas e mortes de um cangaceiro. trad. M. C. F. F. Marcondes, A. de P. Danesi, São Paulo, Edusp, 2006); M. E. de A  Clemente,  Lampiões acesos: a Associação Folclórica e Comunitária dos "Cangaceiros de Paulo Afonso" - BA e os processos de constituição da Memória coletiva do cangaço (1956-1988), Dissertação de Mestrado em História, IFCH, Campinas, UNICAMP, 2003; R. de A. MELO,  Arcanos do verso: trajetórias da Tipografia São Francisco em Juazeiro do Norte, 1926-1982, Dissertação de Mestrado, Fortaleza, PPGHS/UFC, 2003; I. C. M. Guillen, Errantes da Selva: histórias da migração nordestina para a Amazônia, Recife, Ed. Universitária da UFPE, 2006; I. da S. R. Maya, O poeta de cordel e a primeira república, 2006, Dissertação (Mestrado em História, política e bens culturais), Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2006; Linda Lewin, “Um conto de dois textos: oralidade, história oral e insulto poético em O Desafio de Romano e Inácio em Patos (1874)”, in A. C. Marques (Org.), Conflitos, política e relações pessoais. Fortaleza, UFCE/FUNCAP/CNPQ-Pronex, Campinas, SP, Pontes Editores, 2007, pp. 81-107; S. Nemer, “O folheto popular e as revistas ilustradas: representações do masculino e do feminino na virada do século XIX para o século XX”, in S.Nemer (org.), Recortes contemporâneos sobre o cordel, Rio de Janeiro, Edições Casa de Rui Barbosa, 2008, pp. 175-186 e Feira de São Cristóvão – a história de uma saudade, Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2011; M. A de F. Grillo, Da cantoria ao folheto: o nascimento da literatura de cordel nordestina, Cadernos de Estudos Sociais, Recife, v. 34, n. 2, pp. 187-203, jul./dez. 2008 e “Evas ou Marias? As mulheres na literatura de cordel: preconceitos e estereótipos”, Revista Esboços, Florianópolis, v. 14, n. 17, 2007. Disponível em: www.periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/view/1338. Acesso em: 01/02/2013; R. J. Francisco Oliveira  Jr., “Representações de Antonio Silvino: reafirmando as relações de gênero na literatura de cordel”, in Simpósio Nacional De História, 25., 2009, Fortaleza, Anais do XXV Simpósio Nacional de História – História e Ética, Fortaleza: ANPUH, 2009. CD-ROM.  Disponível em: http://anpuh.org/anais/?p=14621. Acesso em: 01/02/2013 e “Literatura de Cordel: Fonte e Espaço de Produção da História”, In: História e-História, 2010. Disponível em: http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=professores&id=103. Acesso em: 03/02/2010. Infelizmente, não tivemos acesso aos seguintes trabalhos: M. A de F. Grillo, A arte do povo: histórias na literatura de cordel (1900-1940). Tese de Doutorado em História, Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2005 e Cecília da Silva Azevedo, Rompendo fronteiras: a poesia de migrantes nordestinos no Rio de Janeiro (1950-1990), Niterói, 1990. Dissertação (Mestrado em História) – Curso de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense.

[10]. Ver R. Ortiz, Cultura brasileira & identidade nacional, São Paulo, Brasiliense,1985, pp. 90-106, e Românticos e folcloristas – cultura popular, São Paulo, Olho d’água, 1986;  R. L. Vilhena, Projeto e missão: o movimento folclórico brasileiro, Rio de Janeiro: FGV/Ministério da Cultura - FUNARTE, 1997.

[11]. J. A. Pasta Júnior, “Cordel, intelectuais e o divino espírito santo”, in A. Bosi. (Org.). Cultura brasileira: temas e situações, São Paulo, Atica, 1987, pp. 58-74.

[12]. L. Hallewell, O livro no Brasil, São Paulo, T. A Queiroz/ Edusp, 1985 (2ª ed. rev. e ampl.: Edusp, 2005) (ed. original 1982).

[13]. Vide os estudos reunidos por A. Bragança e M. Abreu (orgs.), Impresso no Brasil – dois séculos de livros brasileiros, São Paulo, Editora da UNESP, 2010, dentre os quais contam-se textos sobre a tipografia em Pernambuco, a leitura na Paraíba, a história do livro na Bahia, as letras em Manaus e os folhetos de cordel.

[14]. Vide, como exemplo de trabalhos que revisam os velhos modelos ou exploram novas vias (além, é claro, das pesquisas históricas sobre o cordel, anteriormente citadas): M. O. L. da S. Dias, “Sociabilidades sem História: votantes pobres no Império, 1824-1881”, in M. C. de Freitas (Org.),  Historiografia brasileira em perspectiva, São Paulo, Contexto, 1998, pp. 57-72; L. Lewin, Política e parentela na Paraíba: um estudo de caso da oligarquia de base familiar, Rio de Janeiro, Record, 1993; C. M. Viscardi, O teatro das oligarquias – uma revisão da “política do café com leite”, Belo Horizonte, C/Arte, 2001; J. M. Villela, O povo em armas: violência e politica no sertão de Pernambuco, Rio de Janeiro, RELUME-DUMARA, 2004; M. Dantas, Fronteiras movediças: a comarca de Itapicuru e a Formação do Arraial de Canudos (relações sociais na Bahia do século XIX), São Paulo, Hucitec/Fapesp, 2007; dentre muitos outros.

[15]. R. Terra, Memória de lutas: literatura de folhetos do Nordeste, São Paulo, Global, 1983.

[16]. Ibid., p. 17

[17].Ibid.

[18]. A. Candido, Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, São Paulo, Martins, 1959.

[19]. Ibid., pp. 23-36.

[20]. Ibid., p. 36.

[21]. Ibid., p. 38.

[22]. Ibid., p. 57

[23]. Ibid., pp. 189-90.

[24]. D. T. Monteiro, Os errantes do novo século: um estudo sobre o surto milenarista do Contestado, São Paulo, Livraria Duas Cidades, 1974.

[25]. Ibid., p. 36.

[26]. Ver E. D. B. de Meneses, “Das classificações temáticas da literatura de cordel: uma querela inútil”, Jornal de poesia, 1994. Disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br/ediatahy01c.html. Acesso em: julho de 2010.

[27]. Vide o resumo das sete principais classificações para a literatura de cordel brasileira propostas entre 1955 e 1976, realizado por Idelette Muzart-Fonseca dos Santos, La littérature de cordel au Brésil..., op. cit., pp. 132-133.

[28]. Ibid., p. 18.

[29]. Ibid., p. 59.

[30]. Ibid., p. 77.

[31]. H. Kaye, The British marxist historians, Nova Iorque, Polity Press, 1995; ver também O. Santos, “O povo conta sua História”, in O. de J. Santos, (Org.), O Cordel: Testemunha da História do Brasil, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1987, bem como  o livro de M. Curran, História do Brasil em cordel, São Paulo, EDUSP, 2003.

[32]. Ruth Terra, op. cit., p. 18.

[33]. M. I. N. Ayala, No arranco do grito..., op. cit.

[34]. F. de A. S. Lima, Conto popular e comunidade narrativa, op. cit.

[35]. Vejam-se, por exemplo, as considerações metodológicas de Ayala, op. cit., p. 11-13.

[36]. Ver por exemplo P. M. Beattie, Tribute of blood..., op. cit.; L Hata, O Cordel das Feiras às Galerias, op. cit.; E. Ramos, Du marché au marchand…, op. cit.

[37]. L. Lewin, “Um conto de dois textos...”, art. citado.

[38]. C. Geertz, The interpretation of cultures, S.L, Basicbooks, 1973, pp. 412-453.

[39]. Vide J. Revel (org.), Jogos de escalas. A experiência da microanálise, Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998.

[40]. Ver, por exemplo, M. E. de A. Clemente, Lampiões acesos..., op. cit.; S. Nemer, Feira de São Cristóvão – a história de uma saudade, Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2011.

[41]. L. Stone, “O ressurgimento da narrativa: reflexões sobre uma nova velha história”, Revista de História, Campinas, Unicamp, 2/3, 1991, pp. 13-37.

[42]. Linda Lewin, op. cit., pp. 81-82.

[43]. Ibid., p. 82.

[44]. Ver também L. Lewin, “Who was “o Grande Romano”?: genealogical purity, the Indian “past”, and whiteness in Brazil's Northeast backlands, 1750-1900”, Journal of Latin American Lore, n° 19, 1996, pp. 129-179.

[45]. Id., “Um conto de dois textos...”, art. citado, p. 84.

[46]. Ibid., pp. 86-87.

[47]. Ibid., pp. 87-88.

[48]. Ibid., pp. 89-90.

[49]. Ibid., pp. 91-92.

[50]. Ver também Ibid., p. 96.

[51]. Ibid., p. 93.

[52]. Ibid., pp. 95-96.

[53]. Ibid., p. 98.

[54]. Ibid., p. 99.

[55]. Ver por exemplo O. Lessa, Inácio da Catingueira e Luís Gama – dois poetas negros contra o racismo dos mestiços, Rio de Janeiro, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1982.

[56]. M. Abreu, O império do divino..., op. cit.

[57]. M. Abreu, Cordel portugues/folhetos nordestinos : confrontos. Um estudo histórico comparativo, Tese de Doutoramento em Literatura Comparada, Departamento de Teoria Literária do IEL, Campinas, UNICAMP, 1993.

[58]. Ver por exemplo C. Nogueira, Literatura de cordel portuguesa: história, teoria e interpretação, Lisboa, Apenas Livros, 2006; M. I. R. Pinto, “O cordel do Brasil e o cordel de Portugal: possíveis dialogos”, Soletras, ano IX, n. 18, São Gonçalo, UERJ, 2009. Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/18/09.pdf. Acesso em: 03/06/2012 e “Literatura de cordel do Brasil e de Portugal: elementos articuladores de cumplicidades e conflitos”, Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 2, Rio de Janeiro, CiFEFiL, 2011. Disponível em: http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_2/166.pdf. Acesso em: 03/06/2012.

[59]. J. Pires Ferreira, Cavalaria em cordel, op. cit..

[60]. S. Peloso, O canto e a memória: história e utopia no imaginário popular brasileiro, São Paulo, Ática, 1996.

[61]. Ver H. Bhabha, The Location of Culture, Londres e Nova Iorque, Routledge, 1995.

[62]. R. Chartier, A história cultural: entre práticas e representações, Lisboa, DIFEL, 1990.

[63]. Ibid., pp. 19-25; 46-48.

[64]. A. Bragança e M. Abreu (Orgs.), op. cit.

[65]. Ibid., pp. 56-69.

[66]. Ibid., p. 73.

[67]. Ibid., p. 74.

[68]. Ibid., p. 82.

[69]. Ver também A. de Almeida e J. A. Sobrinho (Orgs.), Dicionário Bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada, João Pessoa, Editora Universitária, 1978.

[70]. Ibid., pp. 85-87.

[71]. Ibid., p. 87.

[72].  Ibid., pp. 104-105.

[73]. Ibid., p. 108 e ss.

[74]. Ibid., p. 114.

[75]. Ver os diversos estudos em S. Nemer (Org.), Recortes contemporâneos sobre o cordel, Rio de Janeiro, Edições Casa de Rui Barbosa, 2008.

[76]. Ibid., p. 95.

[77]. Idelette Muzart-Fonseca dos Santos, La littérature de cordel au Brésil…, op. cit., p. 108.

[78]. Ibid., p. 74

[79]. Por exemplo J. P. Ferreira, Armadilhas da memória e outros ensaios, São Paulo, Ateliê, 2004, p. 146 e ss.; R. Terra, op. cit.

[80]. Ver B. Lepetit, “Proposições para uma prática restrita da interdisciplinaridade”, in H. Salgueiro (Org.), Bernard Lepetit. Por uma nova história urbana, São Paulo, Edusp, 2001, pp. 31-43.

[81]. Albuquerque Jr., op. cit.

[82]. Vide Hobsbawn e Ranger (Orgs.), A invenção das tradições, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984.

[83]. F. Ramos, O verbo encantado.., op. cit.

[84]. F. de A. S. Lima, Conto popular e comunidade narrativa, op. cit.

[85]. M. Dantas, Fronteiras movediças..., op. cit., pp. 339-440.

[86]. M. Dantas (org.), Revoltas, motins, revoluções. Homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. São Paulo, Alameda, 2011.

[87]. Ver E. da Cunha, Caderneta de campo, São Paulo, Cultrix, 1975.